E para quem gosta de refletir em dias chuvosos, é claro
Se você é uma menina-mulher que nasceu entre 1990 e 2010, provavelmente já deve ter visto — ou até mesmo usado — aquelas toalhinhas compactas que, ao colocá-las na água, quadruplicam de tamanho! “Um Dia de Chuva em Nova Iorque” é quase que a mesma coisa, mas em versão cinematográfica. Isso porque, em uma hora e trinta e dois minutos de duração, o problemático diretor e roteirista Woody Allen consegue nos entregar uma história substancialmente completa e complexa em pouquíssimo tempo de tela — levando em consideração, obviamente, que um filme raramente não deixa algumas pontas soltas; portanto, este não foge de tal aspecto costumeiro.
(Foto: reprodução/Internet)
Para iniciar, vamos separar o artista da obra? Woody Allen realmente tem polêmicas podres e duvidosas desde as últimas décadas, mas aqui focaremos apenas em seus filmes que, no final das contas, são bons. “Meia-noite em Paris” (2011), “Golpe de Sorte” (2023) e “Manhattan” (1979) são algumas de suas outras obras que o tornam conhecido na boca do povo cinéfilo — ou dos não tão cinéfilos assim.
O drama conta com Timothée Chalamet (“Wonka”, “Duna 1 e 2”, “Adoráveis Mulheres”, “Interestelar”), Elle Fanning (“The Great”, “Malévola 1 e 2”, “Por Lugares Incríveis”) e a diva Selena Gomez (“Os Feiticeiros de Waverly Place”, “Monte Carlo”, “Programa de Proteção para Princesa”, “Hotel Transilvânia”, “Only Murders in the Building”) como os três personagens chave da história. Tudo começa quando os jovens universitários Gatsby Welles (Timothée Chalamet) e sua namorada, Ashleigh Enright (Elle Fanning), acabam indo para Manhattan. Por um lado, Gatsby quer mostrar Nova Iorque para sua amada; por outro, Ashleigh está mais interessada nos furos que ela poderá conseguir com a oportunidade para sua carreira como jornalista. Logo nas primeiras cenas, é possível perceber que a interação do casal não parece muito natural como se é esperado. Os dois, que se conheceram no jornal da faculdade, tem visões de vida totalmente diferentes, e muito disso se dá pela queda de Welles pelo que consideramos o “submundo” da sociedade — enquanto Ashleigh é praticamente uma dama amável e que todos os pais de menino teriam orgulho de ter como nora.
A filha de banqueiros precisa entrevistar um diretor excêntrico que segue a linha criativa ao invés da comercial em suas produções, o Roland Pollard. Com seu charme entusiasmado e sem pretenções, ela acaba, no entanto, despertando um lado que estava apagado no melancólico — e alcoólatra — diretor. Mas um contratempo surge: Pollard some em uma crise existencial artística. Dessa forma, Ashleigh acaba precisando desmarcar o primeiro dos compromissos marcados com Gatsby. A partir deste ponto, vemos como as personagens se desencontram e se encontram no período de dois dias chuvosos em Nova Iorque.
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Enquanto sua namorada acaba despertando o interesse de três caras do ramo artístico, cheios de suas próprias lamentações e mazelas, sobra para Gatsby Weller despistar os pais de sua presença em Manhattan — os quais estão dando uma festa que ele alegou estar ocupado demais com trabalhos universitários para comparecer. Quando Weller encontra alguns amigos do colégio pelas ruas de Nova Iorque, ele acaba se deparando com Chan Tyrell (Selena Gomez), a irmã mais nova de sua ex-namorada na adolescência. Chan admite, mais à frente, que tinha uma quedinha por ele e adorava escutar as histórias dos encontros dele e da irmã com o máximo de detalhes possíveis quando novinha. Os dois acabam, de cara, logo em seu primeiro reencontro, contracenado brevemente para um filme independente de um amigo em comum, o qual faz com que eles precisem se beijar dentro de carro. Na terceira tentativa, após um beijão, começa a chover — e o dia chuvoso em Nova Iorque passa a se desenrolar com maestria.
Quando mencionamos que as interações iniciais entre as personagens de Timothée Chalamet e Elle Fanning, incialmente, parecem sem jeito e forçadas, é, na verdade, apenas um pretexto para a introdução da personagem de Selena Gomez na trama. Porque, logo de primeira, conforme Gatsby e Chan se encontram, é notável como os personagens parecem estar numa sintonia parecida. O fato de Chan estudar design já deixa e traz para a trama uma reafirmação de seu espírito livre, o que acaba se contrapondo ao espírito da adorável Ashleigh.
A questão em si é que o roteiro trouxe, em pouco tempo, personagens com suas próprias complexidades. Ashleigh Enright quer ser uma jornalista e está disposta a tudo o que puder para se tornar uma profissional de sucesso. Esse “quer ser” já é o principal ponto de diferença entre ela e o seu, até então, namorado.
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Gatsby Weller é tão excêntrico que merece um parágrafo dirigido apenas a ele. A melancolia dele é diferente dos homens com quem Ashleigh se depara ao longo do drama. Weller é arrastado emocionalmente para uma visão de mundo a qual ele aparenta ter curiosidade e usá-la como escape. Afinal, foi criado para ter os melhores modos por sua mãe. Ao final do filme, é explicado o porquê dele ser assim. E o porquê de sua mãe, descrita como controladora e exigente, agir deste jeito. No final, eles apenas compartilham dos mesmos genes — ao menos, é a desculpa que ela dá para as atrações “obscuras” de seu filho. Weller não faz ideia do que quer fazer, e está apenas pulando de galho em galho até descobrir algo que o chame a atenção. Ele é aparentemente sarcástico, mas ao mesmo tempo, conforme as cenas se desenrolam, percebemos que não: ele é apenas ele, incomum. Enquanto as pessoas encaram suas falas como sarcásticas ou irônicas, ele só é sincero em relação a síntese de sua estranheza pessoal. E isso, em opinião pessoal, é justamente que torna a personagem o mais icônica possível. Não posso dizer, no entanto, que a química entre Weller e Chan é o ponto chave para a aceitação da situação de seu relacionamento com Ashleigh. Por mais clichê e belo que fosse, não deixaria de ser um pouco trágico. Mas, também, tiraria o crédito da poderosa atmosfera da cidade de Nova Iorque.
Como nosso protagonista mesmo fala, a cidade tem o seu próprio cronograma, e não da para navegar contra ele. Por mais apaixonado que Weller esteja por Ashleigh, ele vai caindo em si conforme o decorrer do dia passa. Talvez o fato de não se importar tanto quanto o esperado com o fato de sua namorada ter aparecido na TV ao lado de um ator gostosão, insinuada pela mídia como um novo casinho do astro, e em seguida, aparecer só de calcinha e sutiã no bar do hotel em que estavam hospedados, fosse um dos maiores indícios. Isso sem contar com a provocação de outras personagens sobre o que Ashleigh estaria hipoteticamente fazendo. É desconfortante ver Gatsby Weller e Ashleigh Enright beijando outras pessoas sem necessariamente sentir o mínimo de um remorço. O final dos dois, com o término, também clareia a visão do telespectador com o fato de que ambos estavam juntos mais pelo conforto e comodismo do que por amor. Não são apenas o inúmeros bolos que a aspirante a jornalista da no excelente apostador durante o dia, ou seus desencontros que fazem com que ele caia na real. É a junção disso tudo, do encontro com Chan, dos segredos de família e principalmente com a sua solitude que Gatsby Weller percebe, então, que seu lugar é na cidade agitada ao lado de pessoas que não se importam com o barulho dos táxis durante a noite; que seu lugar é com pessoas que aceitem com sinceridade suas peculiaridades. E, principalmente, que seu lugar é ao lado de alguém que compartilhe com ele sobre filmes, espetáculos e beijos na chuva sem se preocupar de pegar uma pneumonia.
Em suma, o filme não foi feito para pessoas que querem assistir um romance fofinho ou clichê, por mais que estes elementos se façam presentes. O filme é ideal para as pessoas que gostam da mistura entre reflexões de vida e acontecimentos que valem a pena contar para os netos quando eles estiverem na fazem de fazer besteira e descobrir qual caminho querem seguir na vida. Mas é uma escolha excelente para quem busca profundidade sem tédio, e para quem quem quer refletir sobre o destino e os dias cotidianos que podem mudar todo o rumo da nossa vida, mas sem quebrar cabeça. A nota para a produção é 4.7, mas é uma boa opção para quem curte “Uma Linda Mulher” e “Manhattan”. Além, é claro, daquelas pessoas que compreendem que é numa hora qualquer num dia comum que sua vida pode despertar e tomar um novo rumo.
Mas o filme é realmente bom?
(Foto: reprodução/Internet)
Em termos de tempo de tela, os fãs de Selena Gomez podem ficar um pouco decepcionados. Seria incrível se ela aparecesse mais — mas, de qualquer forma, ela não é a protagonista. No geral, Woody Allen poderia ter estendido intemporal de tela para todos. Talvez assim, com cenas pós créditos um breve epílogo, pudéssemos descobrir se o irmão de Gatsby casou ou não com a noiva de risada estranha, ou como foi a matéria de Ashleigh. Ou, se de fato, Chan deu uma nova maior do que oito para o beijo de Gatsby Weller.
A fotografia é incrível, as falas são boas. A atmosfera nova-iorquina é gostosa de se assistir, e combina com dias chuvosos. Também serve para aqueles dias em que você quer assistir algo despretensiosamente, e acaba colocando em cima do vaso sanitário para assistir enquanto espera a hidratação no cabelo fazer efeito. Ou até mesmo assistir enquanto se prepara para um evento especial, com direito a maquiagem, cabelo, hidratação e tudo o que você pensar! Também é uma escolha interessante para você, que precisa decidir que rumo seguir e qual tipo de universidade aparentemente combina mais com quem você é no momento — ou com quem se tornar.
O roteiro é bom. E, definitivamente, a produção como um todo só peca em relação a nos deixar com um gostinho de quero mais e não nos dar mais. É interessante ver como as pessoas agem ao estarem cansadas e focadas em seus próprios objetivos ao invés de suas relações pessoais. Se você for assistir com seu namorado ou namorada, a Julietta avisa: logo depois, pode ser a hora de coragem para se sentar, conversar e ver se está tudo bem entre vocês antes de tomarem grandes decisões para suas vidas.
Escrito por: Ana Clara Reis
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