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"Lost In Translation" (2003) foi o segundo longa-metragem dirigido por Sofia Coppola. O filme rendeu a Sofia três indicações ao Oscar, onde ela venceu a categoria de melhor roteiro original. Nessa época, o seu trabalho passou a ser mais valorizado e a tirou da sombra de ser apenas filha do renomado diretor, Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão). Embora ela tenha iniciado a carreira na frente das câmeras como atriz, a atuação não era a sua paixão, e tampouco seu trabalho recebeu boas críticas. Após “O Poderoso Chefão III” ela venceu dois troféus de Framboesa de Ouro (Paródia do Oscar com os piores do cinema), o de pior atriz coadjuvante e pior atriz revelação.
A virada de chave da sua carreira veio com “Lost in Translation”. O filme teve um orçamento bem baixo, de apenas 4 milhões de dólares, no entanto o roteiro potente e sensível entrega personagens cativantes que conseguem promover forte identificação com o público. Em que os temas centrais são a solidão e falta de rumo na vida.
O enredo da história acompanha a antiga estrela de Hollywood, Bob Harris (Bill Murray), que está fazendo uma viagem à Tóquio para gravar um comercial de uísque. A segunda protagonista é a jovem Charlotte (Scarlett Johansson), uma jovem recém-formada em filosofia que está acompanhando o seu marido fotógrafo em uma viagem de trabalho. Bob está na meia idade, enquanto Charlotte está na casa dos seus vinte e poucos anos. Apesar da diferença de idade, a melancolia de estar sozinho em um país com uma cultura bem diferente da deles aproxima dois estranhos, que se conectam após começarem a se encontrar no bar do hotel em que ambos estão hospedados.
Charlotte passava a maior parte do seu tempo dentro do quarto de hotel junto dos seus milhares de pensamentos, enquanto seu marido passava a maior parte do tempo trabalhando. Além disso, ela explorava um pouco do Japão, porém se encontra em um momento de aflições internas com a vida que não parece fazer sentido, onde existiam poucas coisas que a comoviam e os eternos “e se?” rodeavam os às suas inúmeras questões que não costumavam ser debatidas. À medida que, mesmo com pouco tempo de casada, Charlotte já se perguntava sobre quem era aquela pessoa com quem ela se casou, ele já parecia diferente.
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Por outro lado, Harris tinha 25 anos de casado e as coisas não iam bem. Ele ama a esposa e os filhos, porém tem a impressão que tudo funciona melhor na sua ausência. Além das questões familiares, ele se encontra descontente com seu trabalho que tem sido sem paixão e propósito. A forma como ele tem dificuldade de se comunicar com os cidadãos de Tóquio é uma metáfora para ilustrar esse isolamento que Charlotte e Bob sentem em meio a desorientação dos acontecimentos de suas vidas.
O tempo que Bob e Charlotte passam juntos é breve, entretanto, essencial para aquele momento que serviu como forma de brilho em que ambos são um espelho um para o outro ao refletir sobre medos, inseguranças e desejos. A conexão inesperada deles trouxe um refúgio de suas crises existenciais. Suas conversas íntimas, seus momentos juntos e a companhia que faziam um ao outro funcionar como uma forma de conforto. A relação da dupla ilustra a necessidade do ser humano se conectar com outras pessoas, o que hoje tem se tornado cada vez mais difícil mediante a modernidade líquida.
"Her" (2013) dirigido por Spike Jonze tem um enredo diferente, mas que ainda assim adentra nos temas relações sociais e solidão. Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor que sofre com as dificuldades de superar o divórcio, em meio a rotina ele se sente entediado e começa a interagir com uma inteligência artificial chamada Samantha (Scarlett Johansson). O inesperado acontece e ele acaba se apaixonando. O filme também ganhou o Oscar de melhor roteiro original.
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O que conecta "Lost in Translation" e "Her" é que Sofia Coppola e Spike Jonze foram casados. Inclusive o divorcio deles foi anunciado pouco tempo depois do lançamento do filme de Sofia. Fato que rendeu muitos comentários na época que diziam que o roteiro foi inspirado nos problemas enfrentados pelo casal durante o relacionamento.
O Spike era fotógrafo, e assim como Charlotte, Sofia já se viu obrigada a acompanhar ele em trabalhos no Japão. O hotel usado como locação do filme era o mesmo que o casal se hospedava na época de casados. Em entrevistas a diretora foi questionada sobre as semelhanças e declarou “Não é Spike, mas há elementos de Spike nele, elementos de experiência […] Existem elementos meus em todos os personagens”
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Ao saber dessas informações a experiência de assistir esses filmes se torna diferente. As atenções para o personagem Bob Harris ficam mais de lado enquanto observamos com outros olhos o casamento de Charlotte. Ademais, muitos planos usados no filme de Jonze são bem semelhantes aos usados no final de Sofia. Da mesma forma que ambos escalaram Scarlett Johansson para o elenco.
Seguindo a teoria, fica nítido a diferença de perspectiva desse relacionamento dos diretores. Em "Her", o protagonista se sente culpado pela separação por não conseguir expressar direito seus sentimentos o que afasta o casal, sendo o trabalho o espaço em que ele conseguia se expressar melhor. Aí que entra a mesma insatisfação sentida por Charlotte em Lost in Translation.
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Com isso, quando Catherine (ex-esposa de Theodore) descobre que Theodore está se relacionando com um sistema operacional aponta a incapacidade dele de lidar com sentimentos reais. Charlotte carregava em si uma insegurança de não se achar boa o suficiente, já Theodore acreditava que a pior crítica de Catherine era ela mesma. Comparação que consegue linkar bem as percepções que um tinha do outro sobre a mesma coisa.
Escrito por: Ana Vitória Pantoja
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