Um dos únicos livros com cinco estrelas na minha lista.
Existe uma linha abstrata que nos leva ao inexplorado. Aqui, ele se torna arte através do olhar empático e emotivo de uma mãe. Formada em ciências sociais, filosofia e em direção de cinema, Won-pyung Sohn é uma premiada diretora cinematográfica, roteirista e romancista sul-coreana. Quando sua filha nasceu, uma série de perguntas fez com que chegasse a questionamentos importantes. Suas expectativas para a própria obra é que ela tenha encorajado cada um de nós a se aproximar dos feridos ––– e, em minha mais sincera opinião, Sohn alcançou muito além de seu objetivo.
“Amêndoas” não é um livro fácil de se digerir, mas a autora aborda temas complexos e emocionalmente carregados de maneira simples. Em suas notas finais, confessa ser grata por ter recebido tanto amor dos familiares durante e sua vida e evidencia o bom resultado disso em sua escrita. Ao contrário do que pensava, toda essa ternura colabora para que transpareça verdade e sensibilidade.
O livro gira em torno de um protagonista com uma doença chamada alexitimia ––– a incapacidade de identificar e expressar sentimentos. A história nos traz as mais sinceras palavras e desabafos de Yunjae, um menino sensível que contradiz a doença que tem. Gosto da expressão “surra de empatia”, porque é isso que aprendemos durante essa leitura. Eu procurei por aspectos que pudesse criticar a autora da obra, mas foi impossível, porque ela e Yunjae cravaram em meu coração emoções que há muito eu não sentia.
Em especial, dedico este livro a alguns tipos de pessoas: primeiro, as que estão parcialmente mortas por dentro, dormentes; segundo, aqueles que são racionais demais, que pensam tanto com a mente que esquecem de usar o coração ––– pasmem, para algumas pessoas, existe a convicção de que ele faz mais por nós do que além de apenas bombear sangue e nos manter vivos; e terceiro, e talvez o mais importante, eu dedico esse livro para todas aquelas pessoas que sentem demais e se culpam por isso. Vocês podem ser o futuro de uma humanidade apática, e graças a cada um dos seus sentimentos e emoções, é que pessoas como o Yunjae podem ser aceitas, amadas e cuidadas, incluídas na sociedade de maneira adequada.
O protagonista diz em certo ponto do livro que “Livros me levavam a lugares que nunca poderia ir de outra maneira. Compartilhavam confissões de pessoas que eu nunca conheceria e vidas que jamais presenciaria”. Yunjae diz que os livros eram diferentes por terem muitos espaços em branco, lacunas entre palavras e linhas que ele podia mergulhar, sentar, andar ou rabiscar os sentimentos dele. Virar as páginas era metade do caminho.
De todo coração, não existe um jeito perfeito para encerrar esse texto. “Amêndoas” é aquela leitura obrigatória para todos os seres humanos. Apenas leia, sinta e viva "Amêndoas”, porque além as termos dentro de nós, “Esta história é, em resumo, sobre um monstro encontrando outro monstro. Um dos monstros sou eu”.
Capa do livro "Amêndoas" (Foto: Reprodução/Editora Rocco)
Escrito por: Ana Clara Reis
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