Astros de K-Pop, protagonistas de séries adolescentes, personagens literários e quarentões de novelas mexicanas, qual deles é o galã perfeito? Em pleno século XXI, as pessoas continuam sua busca incansável pela queda dos padrões impostos ao longo dos anos. A palavra “galã”, que facilmente poderia ser associada ao Brad Pitt na juventude, ou ao Tom Cruise nos dias atuais, ganha um novo significado na nossa matéria.
Tom Cruise e Brad Pitt foram considerados grandes galãs de Holyywood (Foto: Reprodução/Pinterest)
“Galã é aquele maluco que consegue cuidar do enredo principal do filme e ao mesmo tempo dar conta da mocinha, sempre bem arrumado e pomposo. Apreciador de whisky”, defende Gabriel Hardoim, de 26 anos. Hardoim, que é programador de sistemas, acredita que o que as pessoas buscavam há dez anos atrás em um relacionamento se difere do que elas buscam hoje. Em especial, devido ao paradoxo de “você deve se amar do jeito que é, mas eu não me envolveria com você a menos que estivesse dentro do meu padrão”. Quando questionado sobre o que ele acha que seria o anti-galã, respondeu que “a primeira coisa que me vem à cabeça são aqueles caras que lançam um ‘nevou’ e empinam a moto”, não divergindo muito da resposta de outros entrevistados.
Gabriel Hardoim (Foto: Reprodução/Ana Clara Reis)
“Galã é alguém que tem estilo, é bem visto pelas pessoas […]. E o anti-galã é uma pessoa que combina uma camisa laranja neon com um short verde jeans curtinho que mostra metade da coxa”, “Galã é alguém esteticamente atraente e anti-galã é uma pessoa sem completa noção de estilo e sem carisma alguma”, responderam, respectivamente, Bernardo Fidalgo e Pedro Colla, estudantes de nutrição. Outras respostas como “elegante, romântico e cavalheiro” foram as mais recebidas pelas entrevistadoras da Julietta.
Herói, anti-herói e vilão, termos utilizados no universo geek, podem vir a calhar para explicarmos melhor do que estamos falando. Um galã, um anti-galã e um nem-um-pouco-galã. Mulheres são alvos contínuos dos brutos padrões de beleza impostos por uma sociedade hipócrita, mas nem mesmo os homens, por mais que sejam os maiores ocasionadores do machismo, escapam. Graças a uma longa linhagem de pensamentos fechados e achismos concretos, os homens se tornaram as suas próprias vítimas, e a cada geração, os padrões mudam e, com eles, as consequências também. Galã pode ser considerado uma pessoa que programa encontros a luz de velas, com pétalas de rosas espalhadas e que vai à casa dos pais para pedir a mão da namorada em casamento, sim, mas a verdade, é que qualquer indivíduo que se preze pode fazer a mesma coisa. E, pasmem, ele não precisa ter o “shape” do Jhonny Bravo ou a beleza do Michael B. Jordan para isso.
Quando trouxemos a discussão sobre o que seria o anti-galã, nossa maior intenção era fazer com que as pessoas pensassem: “um homem não precisa ser o mais alto, o mais sarado ou o mais rico para ser considerado um bom partido. Ele pode ser um cara normal, com uma vida e um emprego normal, mas com um caráter e força de vontade que o faz se destacar em meio aos outros”, e Colla não errou quando disse que, para ser um galã, o cara deveria ser carismático. Olhando para esse ponto de vista, conversamos com Isaac Florindo (27), terapeuta renomado, para trazer uma visão profissional sobre o assunto.
“Galã é um conceito estereotipado que nós recebemos. É a Barbie do homem. É aquele cara perfeito, em um cavalo branco, que fala muito bem e que não existe. É uma criação cultural [e nada mais]”, comentou Florindo. A visão de relacionamentos sadios, que é uma das maiores necessidades humanas, cada vez mais se desfia, ainda que sua busca apenas aumente, graças às interferências midiáticas, extinguindo, inclusive, o termo “galã” da famosa “boca do povo”. “No Brasil, ainda temos essa cultuação do corpo, enquanto nos Estados Unidos vemos pessoas bem diferentes se relacionando. Em outros países, observamos as pessoas buscarem além da aparência para o envolvimento romântico”, completou o terapeuta de acordo com suas vivências e observações. Ele pontuou, também, que a falta de conexão emocional foi um dos pontos que mais ocasionou divórcios durante o período pandêmico da COVID-19. Outro ponto importante, foi a seguinte frase: “hoje em dia, as pessoas não buscam ser realizadas com elas mesmas, ser infelizes por si só, elas colocam a felicidade delas em ter alguém ao invés de ser feliz para compartilhar isso [com alguém]”.
Isaac Florindo (Foto: Reprodução/Juliana Belmont)
A saúde mental é importante, e um de seus pontos principais é o desenvolvimento do amor próprio. De fato, mulheres sofrem consideravelmente mais do que os homens se tratando do que a sociedade espera delas, mas não os isenta de consequências emocionais. Com uma cobrança exacerbada para serem “másculos”, “pegadores” e sempre saindo por cima, acabam fadados ao declínio da vulnerabilidade masculina natural, que é necessária para levarem uma vida leve, tranquila e repleta de relacionamentos saudáveis. Um galã perfeito pode até existir na ficção, mas o anti-galã é a incorporação da necessidade de homens reais mostrarem seu valor e caráter, provando que ainda existem, em meio à tanto ódio e violência, homens bons que valem a pena —— por pior que seja o seu guarda-roupa. Agora, se você ainda não aprendeu a abrir a porta, proteger uma pessoa vulnerável na calçada e básico da educação sobre como tratar alguém bem, você só é mais um babacão, e esse tipo, a vida real já está cheia.
Escrito por: Ana Clara Reis
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