"Precisamos da arte porque a vida não basta" — frase segundo Ferreira Gullar. A ficção pode ser por vezes nossa maior inspiração, assim como nosso maior escape. Contudo, independente de quais sejam seus objetivos, as diversas histórias idealizadas que lemos e assistimos serão para sempre os maiores combustíveis da verdade.
Seja da verdade da vida, da verdade da política, da comunidade ou a verdade pessoal, a escrita de histórias, e nesse caso, de mundos, possuem características tão internas de suas criadoras que perpassam as telas, ou as páginas. Por meio dessa catarse, que tal relembrarmos algumas histórias que são universos, donas de tantos detalhes que foram sucessos globais?
(Foto: reprodução/Canaltech)
Sem sombra de dúvidas, Harry Potter é um marco cultural. Há quem ame, há quem deteste, mas é fato: a saga do bruxo impactou de maneira grandiosa o mundo dos livros, e posteriormente a cinematografia. Contando a história de um simples menino que teve sua vida mudada para sempre quando se descobre bruxo aos 11 anos e é chamado para conhecer sua própria identidade pela escola de Hogwarts, talvez seja impossível mensurar o efeito que essa fantasia teve sobre a sociedade. Desde incentivo à leitura, a criação de um gênero literário próprio conhecido como “Young adult”, recorde de bilheterias e assim como muitos outros feitos, JK Rowling deixou sua marca, mesmo que com muita dificuldade (e uma atualidade repleta de problemáticas acerca de sua pessoa, deve-se ressaltar).
Apesar de seus feitos históricos, a autora do best-seller enfrentou desde o começo o peso do sexismo. Para conseguir trazer sua arte ao mundo, Joanne precisou abreviar seu nome “original” e transformá-lo em pseudonimo, pois assim atrairia olhares mais interessados e menos julgadores. Muitas portas foram fechadas, e diversas editoras a rejeitaram por cerca de doze vezes. Até que em junho de 1997, a Blomsbury acreditou no trabalho da escritora e o então materializou.
(Foto: reprodução/mundodelivros.com)
Desde então, duas gerações acompanharam a saga e seu feito é reconhecido mundialmente. Diante de tantos detalhes que impressionam, personagens icônicos, filosofias místicas, estudos científicos que espelham a própria realidade e um universo tão autentico que inspirou a criação de um parque temático, prova-se que a força da arte vinda de uma mente feminina ultrapassa qualquer obstáculo.
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Em um viés muito mais sério e extremamente verdadeiro, uma distopia nada mais é do que a criação de um alerta para a lucidez. Um mundo fictício pode parecer apenas uma faísca de criatividade, um compilado de ideias férteis, mas transparece a realidade de uma maneira visceral — com uma maquiagem bem produzida e figurinos bem trabalhados. É desta forma que O Conto de Aia impactou a geração atual, tendo sua história escrita de uma maneira considerada à frente de seu tempo.
Originalmente nascido no ano de 1985, Margaret Atwood tece um enredo situado na República de Gileade, onde existe um regime totalitário fundamentalista cristão militar, na qual a personagem Offred e outras mulheres estão sujeitas à ordem do comandante Fred. Por meio de uma escravização de gênero, as mulheres sobreviventes à esterilidade provocada pela degradação ambiental são mantidas para fins reprodutivos, estando na posição de serviçais (aias).
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Temas como: dependência financeira, violência doméstica, posse do corpo feminino, violência sexual, entre muitos outros são um reflexo de nossas realidades, globalmente. A criação desse mundo distópico nos convida a reflexão de para quem é a politica, assim como nossa própria identidade. Em suma, apenas uma mulher poderia descrever de maneira tão profunda as dores e subversões que uma outra mulher poderia sofrer.
(Foto: reprodução/exame.com)
Talvez não seja tão difícil se lembrar de algum momento em que se foi comentado “E que comecem os jogos vorazes. Que a sorte esteja sempre ao ser favor”. A existência do bordão implica diretamente em sua influência e importância cultural e a dona desses feitos se chama Suzanne Collins. Um pouco divergente de O Conto de Aia, a obra está inserida em um contexto pós-apocalíptico na fictícia nação de “Panem”, onde meninas e meninos no período da juventude devem participar dos temidos Jogos Vorazes — um evento televisionado anualmente, em que os mesmos devem lutar pela sua própria vida até que se reste apenas um vencedor.
(Foto: reprodução/theguardian.com)
Desde sua primeira edição em 2012, a autora se tornou grande referência em seu gênero, conquistando um público sólido e uma legião de fãs. Por meio de todo esse mundo crítico ao capitalismo e a violência que o sistema impõe sobre os cidadãos, Collins retrata o que mundo já viveu no passado, mas não deixa de ainda sentir as marcas no presente e de certa forma sentirá seus respingos no futuro.
Escrito por: Stéphanie Mendes
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