Você se lembra dessa hashtag? Vamos voltar no tempo e saber um pouco mais de Katú Mirim que debate sobre causas sociais indígenas e revela em muitas de suas músicas a visão indígena sobre a descriminação diária depositada sobre esses povos.
Em entrevista para o Itaú Cultural, Katú conta que foi adotada por pais brancos aos seus 11 meses de idade na periferia de São Paulo, e que durante toda sua infância, todas as atitudes tomadas por ela e interesses que não eram “ensinados” por seus pais adotivos, além de repreendidos com palavras/frases racistas vindas de seu pai. Por muito tempo, se viu pintando seus cabelos de loiro e usando lentes azuis, para ficar mais próxima de sua família não-indígena. Na adolescência, ao ter contato com seu pai biológico, descobriu sua ancestralidade e se reconectou com suas raízes, onde demonstra as relações com o povo manifestadas em suas letras.
Aos seus 36 anos com ascendência Boe Bororo, Katú que é rapper, cantora, compositora, atriz, mãe e ativista, já é bastante conhecida por todos os seus feitos ao povo indígena. Como toda ativista, as lutas não acabam até que eles ainda sejam minorias e sejam afetados por pessoas que não olham por eles.
(Foto: reprodução/Youtube)
Em 2018, ela levantou a pauta do porquê normalizaram esse estereótipo de fantasia como se fosse homenagem a eles, questionando se de fato era uma representatividade. Seu protesto foi compartilhado por meio de um vídeo em seu perfil do Facebook. "Isso é racismo, não é homenagem" relatou a ativista, época de Carnaval, onde o baile da Vogue foi presenciado por várias celebridades fantasiadas de índio.
Apesar de ser um vídeo que demonstra insatisfação e dor de não ser levada a sério como pertencente a essa comunidade, Katú recebeu muitas críticas e ataques. Discussões em todas as redes sociais foram surgindo, "alugou o triplex" na cabeça de muitos! A questão é que as fantasias de índio não foram utilizadas somente em 2018 nos carnavais, são anos e anos dessa caracterização, principalmente nos dias 19 de abril (dia do índio), onde as crianças do ensino infantil/fundamental saem da escola “enfeitas”.
Obs: A palavra “índio” foi utilizada nesses parágrafos com intuito de reforçar o estereótipo preconceituoso, e como era retratado na época quando ainda nos referimos a esses povos como “índios”.
"Acham que é homenagem, porque é ‘exótico’, ‘algo natural do Brasil’, que faz parte da cultura brasileira... mas se você pergunta a qual povo aquela pessoa está homenageando ao se fantasiar, ela não saberá responder, até porque dificilmente as pessoas conhecem nossa pluralidade étnica” Katú Mirim para o G1. É válido refletir sobre essa causa, para evitar ferir povos/comunidades.
(Foto: reprodução/Facebook G1)
Katú Mirim
"Katú Mirim vai além do nome artístico, meu nome eu recebi do povo Guarani Mbya, Katu significa bondade, boa. E quero deixar essa bondade sempre reinar na minhas atitudes.” disse a ativista para o Rock Lounge. Estreou no rap em 2017, com “Aguyjevete” , que trata da resistência do povo negro e indígena. Atualmente, o mais novo álbum da artista é “Cura” que possui 10 faixas com narrativas de etnocídio, colonização e sofrimento, mas dessa vez explorando temas como amor, dança, celebração, felicidade e superação pessoal neste trabalho musical.
E aqui vai as duas músicas mais tocadas no Spotify do álbum Cura!
Bling Bling
“Sua riqueza causa pobreza, estupro e destruição/Quem patrocina o garimpo não é a minha religião”
Cura feat Taboo (indígena integrante do Black Eyed Peas)
“Lua testemunha nosso caminhar/Sou fera sou muito selvagem, prazer resistência, chama de Jaguar”
Taboo (Foto: reprodução/DreamCatcher)
Muito talentosa, 1° indígena na capa Elle Brasil, Katú ainda tem muito a mostrar, seja na música ou ocupando espaços que lhe foram negados por bons tempos. Amanhã (19), Dia dos Povos Indígenas ou Dia da Diversidade Indígena é bom lembrar dos nossos povos originários com mais carinho e gratidão. E lembre-se é indígena, não índio!
Escrito por: Jullia Vieira
Comments